Os
problemas vividos pela sociedade atual assemelham-se aos vividos pelos homens
de Deus no Velho e Novo Testamentos. Os profetas, porta vozes de Deus, já
viviam às voltas com toda sorte de modalidades de corrupção praticadas na
atualidade. Por isso as profecias confrontam o poder corruptor e soam aos
nossos ouvidos como discurso político. Isaias no capítulo 5 versículos 18 e 23
e Amós no capítulo 2 versículo 6, por exemplo, vaticinam contra o
institucionalismo que favorece a parcialidade, o favoritismo e a
impunidade.
Dizer
que não é político e fazer, agir, como se político fosse, é a pior forma de se
fazer política. A política da não política é a mais hipócrita de todas as
políticas, porque se faz política a partir da sua negação. E fazer o que se
nega e negar o que se faz é hipocrisia da pior espécie. Além disso, afirmar que
determinados atos absolutamente políticos não são políticos, é tergiversar. Isso
porque político, sem exceção, todos nós somos, direta ou indiretamente, velada
ou abertamente, já que política, por definição original, é o conhecimento, a participação,
a defesa e a gestão da polis (cidade-estado na Grécia). Portanto, ser
político é algo inerente à condição de ser humano. Além do que, é impossível a
existência de uma sociedade sem autoridades, normas, sanções, mecanismos de
participação e formas de decisão.
É
preciso entender, de uma vez por todas, que o nosso problema com a política
está fundamentalmente no fato de que interpretamos mal os textos bíblicos. Por
isso tanta aversão. Além do que passamos todo tempo da nossa história ouvindo
que política é do diabo. Todo esse modo de pensar acabou por criar um
inconsciente coletivo despolitizado do qual estamos conseguindo, com muito
custo, nos livrar.
Hoje,
se algumas igrejas encontram-se separadas dos temas sociais do mundo que as
rodeia, é em razão de uma posição tomada séculos atrás. Na tentativa de se
reaproximar de Deus, a Igreja “saiu” do mundo, e para ele fechou as suas
portas. A preocupação passou a ser o “interior”, o coração, um tipo legalista
de “negar-se a si mesmo para si mesmo”, como expressão de devoção. Com isso a
Igreja deixa com os poderosos a articulação política e se dedica, total e
irrestritamente, a um tipo de espiritualidade egoísta e antissocial, que só se
preocupa com a fé excluindo as obras (Tiago 2. 14-18). Evidentemente, muita
coisa precisava ser mudada, na época, mas infelizmente essas mudanças fizeram a
Igreja deixar para trás as pegadas de sangue de quem fez do pobre, do miserável
e do oprimido, o alvo do seu amor libertador – JESUS CRISTO.
Eu
tenho absoluta certeza de que uma ideia que vem se arrastando há séculos, pode
ser mudada a médio e a longo prazo. Isto porque este quadro de inércia
histórica já começou a ser revertido. A pregação da Igreja, hoje, não visa
apenas a alma, mas, sim, o homem inteiro.
Estou
de acordo também que a igreja evangélica deste novo milênio tem se tornado uma igreja
politizada. Não só acredito como é possível provar isso objetivamente. Explico.
A cada ano que passa, o povo latino americano, espoliado nos seus excedentes
pelos colonizadores modernos, vai aprendendo - mesmo que seja só no sentido
prático da palavra - um pouco mais sobre política: seu alcance, seu poder, sua
eficácia, sua abrangência, sua realidade e como fazê-la legitimamente. Além
disso, o discurso evangélico está sofrendo sensíveis modificações, sinalizando
que é por aí que ocorrerão as transformações necessárias e desejadas.
Hoje,
a Igreja Evangélica sabe discernir muito bem em quem ela deve votar. Eu diria
mais: a partir desse movimento de conscientização, os evangélicos, que
surpreenderam na eleição passada, continuarão a sobressaltar a muitos que
viviam da sua carne e do seu sangue.
Daqui
para frente, a igreja tem a obrigação, pelas informações recebidas e pelos últimos
acontecimentos, de dar uma resposta ética à toda essa estrutura corrupta que se
levantou, com base no fisiologismo (relação de poder político em que ações e
decisões políticas são tomadas em troca de favores e benefícios privados em
detrimento do bem comum). Os evangélicos e os brasileiros, de um modo geral,
devem se levantar contra toda essa situação insuportável de apertura econômica
e caos social. Por estas e outras razões, eu acredito que, daqui para frente, a
despeito de todas as nossas fragilidades, ainda, as coisas serão bem
diferentes. Diferentes, porque já está havendo um arrefecimento por parte do
povo contra candidatos “quebra galho”, mas sem perfil moral. Prometem aquilo
que não podem cumprir e fazem campanhas eminentemente eleitoreiras, imaginando
que o povo ainda se encontra na escuridão política, sem saber discernir o certo
do errado.
Acredito
que um cristão politicamente lúcido precisa ter o gemido da criação nos seus
ouvidos a fim de que tenha também vós profética para defendê-la.
Soli Deo Gloria
Pastor Flavio Constantino