Em 1Co 4.1
Paulo diz assim: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e
despenseiros dos mistérios de Deus”.
Em primeiro
lugar precisamos entender o sentido etimológico do termo “ministro”, para não ficarmos aquém do entendimento correto sobre o
ponto de vista, a partir da ótica bíblica, sobre quem é o ministro e qual deve
ser a sua forma de atuação.
Em alguns
países , por exemplo, o ministro é um membro do Poder Executivo, geralmente
nomeado pelo Presidente da República, por ocasião do início de seu mandato. Nesta
conjuntura, a posição de ministro denota um sentido de importância e eminência.
Certamente, por força do cargo, será respeitado, admirado, temido e até
invejado. Trata-se de uma honra por demais elevada. Fica evidente que o uso do
termo não é de domínio exclusivo das igrejas evangélicas quando denominam seus
pastores de, justa e respeitosamente, “Ministros da Palavra” ou “Ministros do
Evangelho”.
A palavra
ministro vem do latim minus, que significa menor. Antigamente, o ministro era
um simples criado. Aquele que executava as tarefas menores na casa de seu
senhor. Não é sem razão, por tanto, que os pastores são, também, chamados
ministros.
Paulo conceitua
o ministro como um servo, todavia, o termo utilizado em I Coríntios 4.1, no
original grego é “huperetas”. Literalmente significa
"remador-subordinado", alguém inteiramente submisso à vontade de
outrem. Tratava-se de um escravo condenado à morte, cuja única função era remar
no porão mais inferior dos grandes navios romanos, do tipo Trirreme.
A Trirreme caracterizava-se
por três fileiras de remos, em que cada remo era movido por um remador. Os
remadores estavam escalonados e colocados de forma a que o seu movimento não
impedisse o do remador mais próximo de manusear o remo. Os remos tinham entre 4
a 4,2 metros cada um.
Embora as Trirremes
tivessem várias configurações e não fossem naturalmente todas iguais, podemos
considerar que o tipo mais comum tinha cerca de 200 pessoas. Dessas, 170 eram
tripulação e, os restantes 30, faziam parte da guarnição.
A Trirreme
grega era especialmente utilizada para abalroar navios inimigos tentando,
posteriormente, fazer marcha à ré. Assim, afundava-se o navio e passava-se ao
navio seguinte.
A aproximação
romana ao problema parece ter sido diferente, porque os romanos pretendiam não
necessariamente destruir o navio inimigo, mas sim capturá-lo. Por isso
desenvolveram sistemas que permitiam e facilitavam a abordagem. Por essa razão
as Trirremes romanas muitas vezes tinham uma maior guarnição (até 100 homens)
que os navios gregos que estavam reduzidos a um pequeno número de 30 homens a
bordo.
A partir do
entendimento do que era um huperetas e no que consistia sua função na trirreme,
percebemos exatamente que tipo de recado Paulo pretendia dar aos crentes da igreja
em Corinto, visto a arrogância e orgulho dos mesmos não condizer, exatamente,
com a figura do huperetas.
Em que pese a
posição de serviçal, subordinado e escravo do remador (huperetas-ministro),
outras considerações devem ser feitas a respeito do mesmo:
1) O remador
não o era por vontade própria, escolha ou interesse pessoal, isto lhe era
imposto;
2) Não era uma
profissão e, sim, uma imposição à qual não havia como resistir;
3) Considerando
que antes de se tornar remador já se tratava de um condenado à morte, sê-lo
dava-lhe uma opção à morte imediata. Sobreviveria mais algum tempo (quem
sabe?);
4) Geralmente
ficava acorrentado ao navio enquanto remava, para evitar a fuga em meio aos
perigos e riscos da batalha;
5) Por conta
disto, o seu destino estava irremediavelmente ligado ao do navio, se este
afundasse...;
6) Devia remar
em sintonia com os demais remadores, para tanto, havia alguém marcando o ritmo
num tambor;
7) Remava de
acordo com as ordens do capitão que estava no nível superior do navio e que,
portanto, tinha a visão certa do sentido a ser tomado e, enfim;
8) Era
responsável pelo movimento da embarcação, porém, os resultados e méritos da
batalha atribuíam-se ao capitão.
Concluímos
então que o ministério não é profissão e sim vocação. Profissão se aprende;
vocação se recebe:. Os riscos são imensos. Talvez o ministro sobreviva; talvez
morra em meio à batalha. O remador viveria enquanto estivesse ligado ao navio e
neste fosse útil. Em certo sentido a vida do ministro está estritamente
relacionada ao ministério e só nele ela tem sentido. O verdadeiro ministro vive
e morre pelo ministério; nele está seu senso de utilidade. Seu amor, gratidão e
todo sentimento justo para com seu Mestre se revela no esforço empreendido no
ministério, com vistas a agradá-Lo.
Ministro e
ministério formam um todo harmônico. Um sem o outro é improvável, inexistem,
perdem a razão de ser. Estão estritamente ligados; o fim de um é o fim do
outro. O sucesso de um é o sucesso de ambos. Estão acorrentados entre si; não
tem como separar-se, a menos que cumpram juntos sua missão. Perecendo o
ministro, perece seu ministério; sobrevivendo um, sobrevivem ambos. A proteção
deve ser mútua.
Um único
remador não podia mover sozinho a embarcação. O bom ministro arregimenta outros
ministros para remar com ele. Reme ritmado, sincronizado com os demais. O
remador, por si só, não tem senso de direção, recebe-o do capitão. Tanto a
direção como a estratégia certa vem Daquele que está “acima”, no “nível
superior”.
Por fim, o
verdadeiro ministro caracteriza-se mais pelo resultado do seu serviço no reino
de Deus do que pela posição em si (lembrando que a mesma é inferior). Deus
cobra e exige resultados (Mt 25.26,27). Quando eles (os resultados) aparecem,
os méritos não são do remador, mas, do Capitão. O ministro responde pelo
movimento da embarcação. Se ela não está se movendo é porque ele não está
remando. Talvez não esteja havendo harmonia entre os remadores da embarcação;
falta ritmo, sincronismo (remar ao mesmo tempo, no mesmo sentido). Talvez não
esteja entendendo as ordens do Capitão, ou, quem sabe, esteja empreendendo suas
estratégias pessoais e não as Dele. Ao ministro compete pagar o preço mais
elevado. Sua vida de submissão, devoção, oração, jejum, consagração, meditação
e estudo da Palavra certamente colocará a embarcação em poderoso movimento de
conquistas. Remando com graça e unção, cumpriremos nossa missão de
huperetas-ministros de Cristo e inspiraremos outros para que também cumpram a
sua (II Co 1-10; Fl 1.13,14).
Soli Deo Gloria
Flavio F Consatntino