O acordo do Vaticano com a Corte Portuguesa – na época da colonização do Brasil – foi nesses termos: “Vocês (a Corte) nos dão segurança e em troca nós (a Igreja) daremos a vocês UM POVO OBEDIENTE". Até hoje a Igreja e o Estado mantêm esse tipo de relação.
A “doutrina de Balaão” acerca da qual a Bíblia fala é a mais clara forma de revelar como a religião (desde os sumerianos) sempre foi o braço de apoio, sustentação e manutenção do poder político. Os "sacerdotes" dispunham de muita riqueza e os templos serviam de arrecadadores de dinheiro. Na verdade, nada mudou na história; é só uma repetição. Por isso a igreja, hoje, segue o mesmíssimo padrão.
A igreja, no passado, adaptou a teologia à visão do poder para levar vantagens deste mesmo poder que ela idealizava. Por exemplo, quando se vivia sob o governo monárquico a igreja utilizou-se da “teologia do Cristo Rei”, para que parecesse com a majestade da realeza. Quando os principados políticos começaram a sobressair na Europa na Idade das Trevas, a igreja criou a “teologia do príncipe que governa”, dizendo se tratar da representação do “filho de Deus”. Quando a República chegou e as manifestações de poderes democráticos, na mesma hora houve uma migração da consciência teocrática que habitava por assim dizer o rei na terra para a consciência democrática, que passava agora habitar a vontade do povo na terra. (É aqui que se faz a migração da teologia da soberania de Deus para a teologia do livre arbítrio.) E a teologia do livre arbítrio instala uma política democrática.
O que eu estou tentando dizer para o leitor é que não faltaram teologias para justificar qualquer ideologia. E nesses mais de dois mil anos de história da igreja vemos a capacidade afiada dos nossos mestres ideólogos de manobrar “deus” na direção da sua conveniência. Quando eu coloco “deus” com “d” minúsculo é porque estou falando deste deus manobrado, um “deus” que nem Deus conhece; é o deus inventado, é o “deus” formatado segundo a conveniência dos que dançam conforme a música tocada pelo poder.
A Bíblia diz:
"...algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem."
Salvo melhor juízo, este é o texto bíblico mais denso para mostrar o poder corruptor que vem operando dentro das igrejas brasileiras (quero falar apenas das nossas, mas certamente este fenômeno encontra-se em outros países).
A figura híbrida de Balaão nas Escrituras salta os olhos, porque não é profeta de nenhuma linhagem dos hebreus, mas mesmo assim tem uma projeção tamanha, trazendo a si homens poderosos que o procuram para facilitar coisas do poder.
A impressão que eu tenho é que a semelhança do comportamento de Balaão é enorme quando comparado aos nossos profetas atuais. Parece-me que nós estamos na “Era Balaão”, onde as coisas mais esquisitas acontecem nos púlpitos de nossas igrejas, nas casas, nas ruas, nos escritórios de magnatas, nas salas de espera de políticos. Comumente eu vejo, ouço de pessoas sobre algumas coisas que estão ocorrendo no meio evangélico e que se assemelham e muito a relação de poder entre Balaão e Balaque.
Balaão foi observado pelo rei de Moabe, Balaque, talvez meses a fio. Balaque, vendo o desempenho do povo de Israel que era tangido por um poder supra terreno, imaginou que podia ter essa mesma força para as suas conquistas e viu em Balaão alguém que podia ter como parceiro. Oferecendo a Balaão mundo e fundos Balaque lhe pediu que amaldiçoasse o povo de Deus. Balaão, profeta vendido e sem caráter, prontamente aquiesceu ao pedido.
Pastores, igreja, essa história faz parte da nossa história hoje. Nós nos tornamos “filhos de Balaão”. Isso é a corrida atrás de ouro. Os líderes evangélicos precisam de uma descontaminação. Seus referenciais cristãos já não existem mais. Estamos vivendo os dias de Balaão: quem dá mais nós fechamos.
Anos atrás não faltaram pastores para abençoar o moço de Brasília com vistas a que ele se tornasse o presidente do Brasil. Aliás, hoje é importante para o candidato político ter um Balaão por perto para abençoá-lo na frente do povo. Isso é uma tragédia de proporções alarmantes. Temos ainda líderes que se vendem para dois ou três candidatos, pegando dinheiro dos três.
Balaão se perfilhou para dizer palavras de maldição sobre Israel, mas Deus interveio e mandou que ele dissesse apenas o que lhe comunicava e, em vez de ele amaldiçoar Israel, ele o abençoava. Como ele viu que Israel era inamaldiçoável, ele recorreu a outro expediente: levou o povo a achar que não havia nada de mais ser povo de Deus e se prostituir. Assim o povo de Israel caiu na cilada de Balaão. Será que esta história de Balaão não corresponde a algumas de nossas atitudes hoje como líderes e membros da igreja do Senhor Jesus? Será que esta história bíblica não reverbera em nossos ouvidos um alerta contra o caminho de corrupção que alguns líderes de igrejas vêm tomando?
UMA LIDERANÇA DOENTE
Estamos doentes e se trata de uma doença contagiosa. À semelhança da Idade Média, estamos matando os “gatos” e deixando que os "ratos" espalhem a peste entre o povo.
Não há o mínimo de moralidade na política evangélica. Ela segue a mesma direção que a política secular. Pior: tudo é feito debaixo de muito cinismo e conveniência. Tornamo-nos vendedores de bênçãos, negociadores de almas, leiloeiros da fé, comprometidos até o último fio de cabelo e ainda somos capazes de subir a um púlpito e pregar santidade, coerência e verdade. Outros há que se fazem paladinos da verdade, representantes dos evangélicos no Brasil, mediadores entre o povo e o poder. Isso é brincar com fogo e com coisa séria.
Precisamos hoje mais do que nunca discernir as principais doenças da igreja e a cura que lhe é proposta na Bíblia, a Palavra de Deus. Não para que ela seja a salvação do mundo, mas que a igreja (os sete mil que não se dobraram a Baal e a Balaão) faça o seu papel profético e seja um agente de transformação histórica no mundo.
O que é mais chocante nisso tudo é que não é de hoje que a igreja negocia com o poder. Deixamos escapar a TDL, que nasceu nos porões de uma igreja evangélica, transformando-a numa "grande prostituta". Se tivéssemos refletido sobre esta teologia e o seu alcance no que diz respeito às mudanças propostas nos rumos da igreja brasileira, certamente teríamos, hoje, uma leitura crítica da política e da sociedade e o Brasil passaria por grandes transformações.
Líderes, igrejas, o mundo ouve a voz de Deus, mas quando se volta para olhar – e essa é a primeira coisa que ele enxerga – nos vê. Por isso que a nossa responsabilidade é enorme. Porque quando a voz é ouvida o sujeito olha é a gente. Não se deixe ver como um “filho de Balaão”. Seja um Elias nesta geração, profeta que preferiu seguir um caminho de denúncia profética a ter os prazeres momentâneos do poder.
Que Deus tenha misericórdia de nós!
Rev. Paulo Cesar Lima
Presidente da CATEDRAL da Assembleia de Deus em Jardim Primavera e da CMADERJE