Ouço
vozes esmorecidas e vejo olhares que não brilham mais. É o desencanto com a
Noiva.
Noto
que a desilusão vem pela tristeza ao ver cenários onde o louvor e a pregação se
transformam em fonte de lucro e não consequência de corações transbordantes.
Pela proliferação de igrejas cada vez mais cheias, porém aparentemente tão
vazias, menos comprometidas com a Palavra, sem sede de santidade e paixão pelos
perdidos. Segue pela tênue linha que por vezes parece não distinguir muito bem
Igreja e mundo, especialmente quando o binômio interesse e finanças se
apresenta, e ainda pela dificuldade em
identificar a Igreja de Cristo em meio aos movimentos religiosos.
O
desencanto faz o povo olhar para o passado e relembrar os velhos tempos.
Comenta-se sobre os pastores à antiga e dias quando a Igreja ainda via
simplesmente na Palavra razão suficiente para o santo ajuntamento. Tempos
quando o constrangimento por ser crente era resultado da discriminação, porém
jamais identificação com o injusto e o desonesto. Por fim suspira-se desanimado.
Em
momentos assim é preciso lembrar que Jesus jamais perdeu o absoluto controle
sobre a história da Igreja. Jamais foi surpreendido por coisa alguma em todos
estes anos. Jamais deixou de ser Senhor. Apesar das fortes cores de desalento a
Noiva está sendo conduzida ao altar e o dia de brilho há de chegar.
Isso
levou-me a pensar no dia de meu casamento. Foi em 27 de setembro de 1997.
Apesar do amor e alegria pelo dia chegado tudo parecia fadado ao fracasso
absoluto. A pessoa contratada para fazer a maquiagem não apareceu tudo se
tornava uma incrível agitação. A noiva chorou pelos desencontros do dia. O
andar de cima da casa de minha sogra onde ela se arrumava tornou-se, aos meus
olhos, em um pátio de guerra. Pessoas entrando e saindo apressadas, faces
carregadas de ansiedade e um tom sempre apocalíptico a cada nova notícia. Ao
longo dos anos percebi que os casamentos são parecidos neste ponto. A balbúrdia
que cerca a noiva antecedendo seu momento de brilho é emblemática. Aos olhos do
passante que vê a agitação sem fim, nada parece ter esperança.
Fui
para a cerimônia esperando o pior. Jamais seria possível contornar todos os
imprevistos, e o impensado poderia acontecer: a noiva não estaria pronta!
Enquanto pensava nisto, ali no altar, eis que ela chega. Estava linda, uma
verdadeira princesa. O rosto sorridente, o caminhar lento e seguro, o vestido
alvo como a neve, simplesmente perfeita . A música, a ornamentação, as
palavras, tudo se encaixava. Que milagre poderia transformar um dia de caos em
um momento de brilho tão belo?
As
horas de luta, as lágrimas derramadas, os desencontros e desalento foram
rapidamente esquecidos e um só pensamento pairava naquele saguão: a Noiva
estava linda.
Talvez
vivamos hoje dias melancólicos ao visualizar a Igreja quando manchas e mazelas
tentam levar nossa esperança para o cativeiro da desilusão crônica. A casa está
desarrumada, o vestido da Noiva não nos parece branco, há graves rumores de que
ela não ficará pronta.
É,
porém, em momentos assim que Deus intervém. Lava as vestes do Seu povo, levanta
o caído, renova o profeta, purifica a Igreja e nos dá sonhos de alegria.
Chegará
o dia, e não tarda, que seremos tomados por Jesus. Neste dia há de se dizer:
Eis o Noivo, é o Senhor que conduz a Igreja. Jamais a deixou só. Como é fiel!
E
creio que todos nós também pensaremos,
extremamente admirados: Eis a Noiva, como está linda!"
Apesar
dos pesares, eu ainda acredito na Igreja do Senhor, ainda mais no Senhor da
Igreja.
Creio
profundamente que ela é a noiva do Cristo descrita nas Escrituras e que o
Senhor há de buscá-la para as Bodas do Cordeiro.
Soli Deo Gloria
Pastor Flavio Constantino
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