terça-feira, 25 de dezembro de 2018

JESUS, NATAL E A MINHA FAMÍLIA




Foi Paulo quem disse que não era mais para se guardar festas religiosas como se elas carregassem virtude em si mesmas. Assim, as datas são apenas datas, e as mais significativas são aquelas que se fizeram história.

O mesmo se pode dizer do Natal, o qual, na “Cristandade”, celebra o “nascimento de Jesus”.

No entanto, aqui há que se estabelecer algumas diferenciações fundamentais:

A. Que Jesus não nasceu no Natal, em dezembro, mas muito provavelmente em outubro.

B. Que o Natal é uma herança de natureza cultural, instituída já no quarto século. De fato, o Natal da Cristandade, que cai em dezembro, é mais uma criação de natureza constantiniana, e, antes disso, nunca foi objeto de qualquer que tenha sido a “festividade” da comunidade dos discípulos.

C. Que a Encarnação, que é o verdadeiro natal, não é uma data universal — embora Jesus possa ter nascido em outubro —, mas sim um acontecimento existencial que tem seu inicio em nós quando cremos que Deus estava em Cristo, e se renova em nós cada vez que vivemos no amor de Deus, confiantes na Graça da Encarnação e na Encarnação da Graça: Jesus, o Emanuel.

D. Que embora o Natal da Cristandade não seja nada além de uma celebração religiosa e sincrética, nem por isso ele faz mal a quem o celebra como quem come o pão e bebe o vinho do Amor de Deus em Sua Encarnação. Isso porque, como qualquer outra coisa, o que empresta sentido às coisas não são as coisas em si mesmas, mas o olhar de quem nelas projeta, simbolicamente, o seu próprio coração.

Assim, que cada um tenha o Natal que em si mesmo tiver sido gerado!

Há quem faça um natal existencialmente do tipo “Casas Bahia”. Por outro lado, existem aqueles que o tornaram algo tão “exato” que não o celebrar é como não comparecer ao “Aniversário de Jesus”. E Há quem não o celebre por julgá-lo uma festa pagã.

O fato é que as coisas ganham o significado que nossa consciência atribui a elas!

Eu compreendo aqueles que querem ser rigorosamente e distintamente Cristãos. Que querem ser libertos do mundo e qualquer raiz pagã que possa repousar sob nossa celebração do Natal, mas não me posiciono da mesma maneira nesta questão porque penso que chega um ponto onde as raízes já estão distantes de tal forma que o significado presente não carrega mais nenhuma conotação pagã. 

O Natal agora significa que marcamos, no meio cristão, o nascimento de Jesus Cristo. Nós achamos que o nascimento, a morte e a ressurreição de Cristo são os eventos mais importantes na história humana. Não marcá-los de alguma forma, através de uma celebração especial, me parece que seria insensatez.

Realmente vale o risco, mesmo que a data de 25 de Dezembro tenha sido escolhida por causa de sua proximidade com algum tipo de festival pagão. Vamos apenas tomá-la, santificá-la e fazer o melhor com ela, porque Cristo é digno de ser celebrado em seu nascimento.

Em meio a tudo isso é Natal! Data em que se comemora o maior ato relacional de todos os tempos: Deus se fez homem para que os homens pudessem entendê-lo. Deus, que tudo pode, passou a poder apenas no nível do humano, ainda que repleto de fé; Deus que em todos os lugares está, passou a estar, limitado pela física, num só lugar de cada vez. Tudo para se relacionar.

Neste tempo em que nos comunicamos cada vez mais, para nos relacionarmos cada vez menos, é tempo de pensar no Personagem máximo do Natal, e de lembrar a importância que uma vez foi dada ao relacionamento com e entre os seres humanos.

As pessoas estão cada vez mais distantes entre si, os relacionamentos estão desmoronando, os casamentos não resistem à menor crise, o individualismo ganha proporção geométrica, embora, a privacidade esteja se tornando impossível. Pensando nisso, não posso deixar de colocar a minha experiência em família que ontem me fez ressaltar aos olhos.

Houve um tempo (já casado e pai) que a Celebração do Natal em família não tinha tanto significado para mim, mesmo rodeado por muitas pessoas. Ontem, ao contrário de tudo que já tínhamos vivido, percebi a grandeza de estar em família numa data tão significativa. Com apenas quatro pessoas em casa (eu, minha esposa e minhas duas filhas) fomos capazes de nos alegrar como nunca ainda havíamos nos alegrado, mesmo com tão pouco (financeiramente falando). Com duas semanas de antecedência minha filha caçula resolveu que fizéssemos um amigo oculto (barra de chocolate), tiramos os nomes e ficamos esperando o dia de ontem (24). Foi o amigo oculto mais rápido da história em cinco minutos já tínhamos encerrado a brincadeira, mas as gargalhadas que tomaram conta do ambiente permaneceram pelo restante da noite todas as vezes que lembrávamos do nosso amigo oculto “flash”. Percebi que você não precisa de muito para ser feliz estando perto de pessoas que realmente te amam por aquilo que você é apenas, e não por aquilo que você tem.

Sendo assim, acho bom que uma vez por ano pelo menos, nos lembramos de reunir família e gente querida ao redor da mesa. Juntos fazemos uma refeição litúrgica e comer se torna um rito sagrado. Avisamos à alma: precisamos parar e esperar uns pelos outros. Dizemos que “com-panhia” (com-pão) tem a ver com a alegria de repartir. De tarde, enquanto se prepara a comida, do forno quente brotam memórias. Empilhados, cada prato tem dono (alguns se foram, meu Deus, quanta saudade!). E o brinde promete continuarmos juntos, venha o que vier. Jantamos. As pessoas que amamos são o parapeito, a segurança mínima, que precisamos na vida inclemente, e no precipício do tempo.

Vou guardar esse Natal pra sempre em meu coração e tenho certeza que as minhas meninas também.


Soli Deo gloria

Flavio F Constantino


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