quarta-feira, 12 de maio de 2010

Política e Igreja ( Parte I )


Os judeus não faziam nenhuma distinção entre política e religião. Questões que nós hoje classificaríamos como políticas, sociais, econômicas ou religiosas, seriam todas elas consideradas em termos de Deus e de sua lei. Um problema puramente secular teria sido inconcebível. Um estudo meramente superficial do Antigo Testamento deveria ser suficiente para tornar isso claro.

O Evangelho de Lucas refere-se constantemente à libertação de Israel. Em Lucas, as pessoas que aparecem na descrição do nascimento de Jesus e de sua primeira infância são mencionadas como “todos os que esperavam pela libertação de Jerusalém” (2.38) ou “pela consolação de Israel” (2.25). A profecia de Zacarias (o benedictus) está centralizada no Deus de Israel que traz a “libertação para o seu povo” (1.68) e “a salvação de nossos inimigos, da mão daqueles que nos odeiam” (1.71) “para nos tornar destemidos, nos salvou da mão de nossos inimigos” (1.74). Os inimigos de Israel são, sem dúvida, os romanos. A esperança e a expectativa manifestadas aqui se referem ao fato de que Jesus “seria aquele que libertaria Israel” (24.21).

Jesus pretendia cumprir essa expectativa religiosa-politica, mas não do modo como as pessoas esperavam, e certamente não do modo como os zelotas tentavam cumpri-la. Jesus pretendia libertar Israel de Roma, persuadindo Israel a mudar. Jesus estava preocupado com a libertação de modo muito mais autêntico do que os zelotas. Estes queriam mera troca de governo – de romano para judeu. Jesus queria mudança que iria afetar a estrutura da vida, chegando às concepções judaicas e romanas mais fundamentais. Jesus queria um mundo qualitativamente diferente – o Reino de Deus. Ele não aceitaria a simples troca de um reino mundano para outro reino mundano. Isso não seria libertação nenhuma.

Jesus enxergou aquilo que ninguém mais conseguia enxergar, isto é, que havia mais opressão e exploração econômica dentro do judaísmo do que fora. Os próprios judeus da classe média, que se revoltavam contra Roma, oprimiam os pobres e os ignorantes. O povo sofria muito mais devido à opressão dos escribas, fariseus, saduceus e zelotas do que por causa dos romanos. O protesto contra a opressão romana era hipócrita. É esse o ponto principal da famosa resposta de Jesus à pergunta sobre o pagamento de impostos a César.

Na prática, o governo romano significava a cobrança de impostos romanos. Para a maioria dos judeus, pagar impostos ao chefe romano significava dar a César o que pertencia a Deus, isto é, o dinheiro e os bens de Israel. Mas para Jesus isso era uma racionalidade, desculpa hipócrita para a avareza. Não tinha nada a ver com a verdadeira questão.

A resposta de Jesus (Mc 12. 14-17) revela não apenas a hipocrisia e a falta de sinceridade da pergunta, mas também o verdadeiro motivo que estava por trás da questão do pagamento de impostos: sede de dinheiro. As próprias pessoas que fazem a pergunta possuem moedas romanas. Considerava-se que as moedas eram propriedades particular dos governantes que as cunhava. Esta moeda trazia o nome e a imagem de César. Não é dinheiro de Deus, mas sim de César, só pode ser porque você ama o dinheiro. Se você realmente quisesse dar a Deus o que pertence a Deus, você venderia todos os seus bens e os entregaria aos pobres, você renunciaria a seu desejo de poder, de prestigio e de bens.

A verdadeira questão era a própria opressão e não o fato de que um pagão ousava oprimir o povo escolhido de Deus. A causa fundamental da opressão que eles mesmos exerciam sobre os pobres, tinham tão pouca compaixão quanto os romanos, senão menos.
Jesus era muito mais sensível aos sofrimentos dos pobres e dos pecadores. Em vez de pôr ênfase na opressão pelos romanos, Jesus pôs a ênfase na opressão pelos fariseus e saduceus (e, por implicação, a opressão pelos zelotas e essênios).

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