quinta-feira, 3 de outubro de 2019

ONDE ESTÃO OS HUPERETAS?



Em 1Co 4.1 Paulo diz assim: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus”.

Em primeiro lugar precisamos entender o sentido etimológico do termo “ministro”, para não ficarmos aquém do entendimento correto sobre o ponto de vista, a partir da ótica bíblica, sobre quem é o ministro e qual deve ser a sua forma de atuação.

Em alguns países , por exemplo, o ministro é um membro do Poder Executivo, geralmente nomeado pelo Presidente da República, por ocasião do início de seu mandato. Nesta conjuntura, a posição de ministro denota um sentido de importância e eminência. Certamente, por força do cargo, será respeitado, admirado, temido e até invejado. Trata-se de uma honra por demais elevada. Fica evidente que o uso do termo não é de domínio exclusivo das igrejas evangélicas quando denominam seus pastores de, justa e respeitosamente, “Ministros da Palavra” ou “Ministros do Evangelho”.

A palavra ministro vem do latim minus, que significa menor. Antigamente, o ministro era um simples criado. Aquele que executava as tarefas menores na casa de seu senhor. Não é sem razão, por tanto, que os pastores são, também, chamados ministros.

Paulo conceitua o ministro como um servo, todavia, o termo utilizado em I Coríntios 4.1, no original grego é “huperetas”. Literalmente significa "remador-subordinado", alguém inteiramente submisso à vontade de outrem. Tratava-se de um escravo condenado à morte, cuja única função era remar no porão mais inferior dos grandes navios romanos, do tipo Trirreme.

A Trirreme caracterizava-se por três fileiras de remos, em que cada remo era movido por um remador. Os remadores estavam escalonados e colocados de forma a que o seu movimento não impedisse o do remador mais próximo de manusear o remo. Os remos tinham entre 4 a 4,2 metros cada um.

Embora as Trirremes tivessem várias configurações e não fossem naturalmente todas iguais, podemos considerar que o tipo mais comum tinha cerca de 200 pessoas. Dessas, 170 eram tripulação e, os restantes 30, faziam parte da guarnição.

A Trirreme grega era especialmente utilizada para abalroar navios inimigos tentando, posteriormente, fazer marcha à ré. Assim, afundava-se o navio e passava-se ao navio seguinte.

A aproximação romana ao problema parece ter sido diferente, porque os romanos pretendiam não necessariamente destruir o navio inimigo, mas sim capturá-lo. Por isso desenvolveram sistemas que permitiam e facilitavam a abordagem. Por essa razão as Trirremes romanas muitas vezes tinham uma maior guarnição (até 100 homens) que os navios gregos que estavam reduzidos a um pequeno número de 30 homens a bordo.

A partir do entendimento do que era um huperetas e no que consistia sua função na trirreme, percebemos exatamente que tipo de recado Paulo pretendia dar aos crentes da igreja em Corinto, visto a arrogância e orgulho dos mesmos não condizer, exatamente, com a figura do huperetas.

Em que pese a posição de serviçal, subordinado e escravo do remador (huperetas-ministro), outras considerações devem ser feitas a respeito do mesmo:

1) O remador não o era por vontade própria, escolha ou interesse pessoal, isto lhe era imposto;

2) Não era uma profissão e, sim, uma imposição à qual não havia como resistir;

3) Considerando que antes de se tornar remador já se tratava de um condenado à morte, sê-lo dava-lhe uma opção à morte imediata. Sobreviveria mais algum tempo (quem sabe?);

4) Geralmente ficava acorrentado ao navio enquanto remava, para evitar a fuga em meio aos perigos e riscos da batalha;

5) Por conta disto, o seu destino estava irremediavelmente ligado ao do navio, se este afundasse...;

6) Devia remar em sintonia com os demais remadores, para tanto, havia alguém marcando o ritmo num tambor;

7) Remava de acordo com as ordens do capitão que estava no nível superior do navio e que, portanto, tinha a visão certa do sentido a ser tomado e, enfim;

8) Era responsável pelo movimento da embarcação, porém, os resultados e méritos da batalha atribuíam-se ao capitão.

Concluímos então que o ministério não é profissão e sim vocação. Profissão se aprende; vocação se recebe:. Os riscos são imensos. Talvez o ministro sobreviva; talvez morra em meio à batalha. O remador viveria enquanto estivesse ligado ao navio e neste fosse útil. Em certo sentido a vida do ministro está estritamente relacionada ao ministério e só nele ela tem sentido. O verdadeiro ministro vive e morre pelo ministério; nele está seu senso de utilidade. Seu amor, gratidão e todo sentimento justo para com seu Mestre se revela no esforço empreendido no ministério, com vistas a agradá-Lo.

Ministro e ministério formam um todo harmônico. Um sem o outro é improvável, inexistem, perdem a razão de ser. Estão estritamente ligados; o fim de um é o fim do outro. O sucesso de um é o sucesso de ambos. Estão acorrentados entre si; não tem como separar-se, a menos que cumpram juntos sua missão. Perecendo o ministro, perece seu ministério; sobrevivendo um, sobrevivem ambos. A proteção deve ser mútua.

Um único remador não podia mover sozinho a embarcação. O bom ministro arregimenta outros ministros para remar com ele. Reme ritmado, sincronizado com os demais. O remador, por si só, não tem senso de direção, recebe-o do capitão. Tanto a direção como a estratégia certa vem Daquele que está “acima”, no “nível superior”.

Por fim, o verdadeiro ministro caracteriza-se mais pelo resultado do seu serviço no reino de Deus do que pela posição em si (lembrando que a mesma é inferior). Deus cobra e exige resultados (Mt 25.26,27). Quando eles (os resultados) aparecem, os méritos não são do remador, mas, do Capitão. O ministro responde pelo movimento da embarcação. Se ela não está se movendo é porque ele não está remando. Talvez não esteja havendo harmonia entre os remadores da embarcação; falta ritmo, sincronismo (remar ao mesmo tempo, no mesmo sentido). Talvez não esteja entendendo as ordens do Capitão, ou, quem sabe, esteja empreendendo suas estratégias pessoais e não as Dele. Ao ministro compete pagar o preço mais elevado. Sua vida de submissão, devoção, oração, jejum, consagração, meditação e estudo da Palavra certamente colocará a embarcação em poderoso movimento de conquistas. Remando com graça e unção, cumpriremos nossa missão de huperetas-ministros de Cristo e inspiraremos outros para que também cumpram a sua (II Co 1-10; Fl 1.13,14).


Soli Deo Gloria

Flavio F Consatntino

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